Já pernoitei em quartos imundos, sórdidos, na companhia de uma velhinha russa, sórdida, crédula. Dostoievski me conduziu até lá.
Perdi-me mil vezes nos labirintos e na erudição de Borges.
Eu, mais Rosa, mais Riobaldo, atravessamos as veredas das Minas Gerais com o diabo e os jagunços na nossa cola.
Me perdi, me confundi, e até hoje não me encontrei, naquela ponte de Budapest a que eu e Alina Reyes fomos levadas por Cortazar.
Subi e desci o rio Madalena vezes sem fim.Voei aos céus envolta num lençol. Minha cabeça cobriu-se de flores amarelas caídas do espaço sideral. Compadeci-me da triste sina de Candida Erendira. Até agora não consegui compor a barafunda que é a árvore genealógica dos Buendia. Garcia Marquez me encanta e me provoca inveja porque não sei escrever como ele.
Passei tardes e tardes no Catedral... pensando na beleza ímpar daquele macho latinoamricano que escreveu as intermináveis Conversas na Catedral. Llosa envelheceu, mas continua lindo.
Desconstruí e construí uma estranha e velha casa cubana sob as ordens de Alejo Carpentier.
Certa vez, uma morte provocou um vazio na minha curiosidade literária: Veríssimo morreu e fiquei sem saber o que fazer. Não haveria mais a ansiosa espera do próximo livro.
Singrei mares longínquos e enfurnei-me em lugares exóticos sob a batuta de Joseph Conrad.
Cerveja. Uisque. Vodca. Gim. Porres homéricos. Camas imundas, prostíbulos nauseabundos e putas disformes. Bebedeiras, bebedeiras, bebedeiras... e mais bebedeiras. Um sorriso filosófico - aquele que a gente sorri para dentro de si mesmo, provocado pela linguagem irreverente, chula, escatológica. Bebedeiras e mais bebedeiras na companhia de Bukowiski.
Ainda imagino onde estará aquela jangada de pedra que Saramago jogou ao mar, sem timoneiro e sem âncora.
Continuo debruçada na janela do quarto que dava para um beco onde Manuel Bandeira morou. Esperando as moças do sabonete Araxá passarem.
A palo seco, asfixiei-me no calor escaldante da mezeta espanhola e convivi com a vida e a morte severina, descendo o rio Capibaribe, o cão sem plumas de João Cabral de Mello Neto.
Clarice? Nem saberia o que dizer. Ela já disse tudo...
Capitu traiu. Capitu não traiu. Capitu é dissimulada. Capitu tem olhos oblíquos de cigana. Sei lá... Só sei que permaneço no fundo do mar, em meio aos peixes e à vegetação ondulante porque uns olhos de ressaca e a magia do Bruxo do Cosme Velho me afogaram.
A viagem literária cansou a
Ademán.
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