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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Footing em frente ao cemitério


Pode parecer mórbido... footing... cemitério. Mas era festa, ou quase, com excessão dos que ficavam dentro dos muros e choravam seus mortos no Dia de Finados.Havia uma estrada de chão, larga, margeada de árvores e, enquanto uns choravam lá dentro, ou lembravam seus mortos, os jovens faziam footing do lado de fora, paqueravam, namoravam, futuros noivados aportavam e muitos casamentos tiveram seu começo.
Por encomenda, ao que hoje seria R$ 1,00, Dona Fifi e sua irmã rezavam o terço de catacumba em catacumba. Mania que o povo tem de não falar diretamente com Deus. Tem sempre de usar o intermédio de alguém. Eram toneladas de velas acesas, o vento de primavera a fazer dançar as chamas, as vozes monocórdicas de Dona Fifi e a irmã a entoarem o terço, soluçõs abafados daqueles que tiveram perdas passadas, choros convulsos por perdas recentes, correria de crianças ao redor dos túmulos... Não pisa em cima, menino, que não presta, teu pai te chama, vem aqui pra fora, onde anda  Dona Fifi?,tá rezando o terço pro falecido compadre Joca Rodrigues, o calor está matando, depois tomo gasosa na barraca de Dona Finoca, viste como Fulana está sentida pela morte do marido... é, mas já tirou o luto e daqui a pouco casa de novo, é muito novinha ainda...

Barraca? Sim! Ao longo da estrada, em frente ao cemitério, quituteiros de todas latitudes achegavam-se para atender o povo porque o Dia de Finados durava o dia inteiro, sim, e o povo precisava comer. Não havia bares, supermercados, ou o que valha, num entorno de quilômetros. Cemitério numa área estritamente rural e corriam os anos 50.

O melhor de tudo era o almoço com vovó. Ela chegava de carroça, puxada por dois cavalos e vinha de sua fazenda muitos quilômetros dali. Instalava-se sob uma árvore bem frondosa e servia sua proverbial farofada com galinha. Farofa úmida, cheirosa, como poucas que se vê. Sobremesa: as queijadinhas de vovó. Bebida: guaraná, gasoza e para os pinguços... muita cerveja mesmo. E não era Brasília amarela em Santos ou farofada na praia. Era Dia de Finados.

E os pastéis da barraca de Dona Finoca? Inesquecíveis. E a quantidade de gasosa ingerida? Nesse dia, os pais abriam a burra e empapuçavam as crianças de tudo que elas pedissem.

E a esbórnia continuava em frente às barracas pagãs, naquela herege estrada. Moças de braços dados - às vezes seis, oito, desfilavam sua beleza e flertavam como se fosse numa moderna balada de hoje. Só não ficavam... A moda não havia pegado ainda.Pode ser até houvesse alguns amassos bem escondidinho, em meio a um arbusto afastado, mas isso ninguém podia ver e se visse... a confusão estava armada. Era Dia de Finados, podia fazer festa, comer nas barracas, beber, emborrachar-se, mas senvergonhice... nem pensar. Havia de ter respeito aos mortos.

Fica sempre a dúvida do porquê daquela festa tão imprópria... Talvez a distância, talvez porque o cemitério abrigasse mortos de todos os cantos, talvez porque deveria ser dia de festa mesmo. Afinal... os chineses não comemoram a morte de seus entes queridos no decorrer das cerimônias fúnebres? Se todos comemorassem, não a temeriam tanto.

E como o assunto de abuelitapeligrosa é sapatos e não morte, ei-los.
Mas, já que se trata de morte, dizem que a América do Sul vai ficar assim, após uma daquelas ánunciadas catástrofes alarmistas. E teve um piadista que mirou o mapa, fez as contas e disse que seria bom porque o mar ficaria bem pertinho da casa dele. Aff!








E como nem só de sapatos comquesonhatodamulherconsumista, um tudo a ver com o clima de hoje.
É so calçar e sair "matando" que os cemitérios andam meio vazios e precisam de muita festa. uuuuuuuuuuuuuu!

Xau! Os cães ladram e as meninas, e meninos, que namoravam na Festa do Dia de Finados passa.
P.S.: Daquele povo que namorava em frente ao cemitérios, quantos já estarão lá pra sempre.! Abuelitapeligrosa continua irme forte por aqui pra contar a história.



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