Total de visualizações de página

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

abuelitapeligrosa: Abuelita vai à balada

abuelitapeligrosa: Abuelita vai à balada:   Beatles, Roling Stones, Elvis Preley etc, etc., passaram batido . A curtição era a rumba, o bolero, o mambo, o cha-cha-chá... Quando ...

Abuelita vai à balada

 

Beatles, Roling Stones, Elvis Preley etc, etc., passaram batido. A curtição era a rumba, o bolero, o mambo, o cha-cha-chá... Quando deu para perceber que o pop era uma realidade e não questão de preferência, vovozinha rendeu-se. Não que ela seja roqueira de carteirinha, mas gosta do som da batera e do contra-baixo. E se a guitarra é do Jimy Hendrix, sem comentários. Ela passou até a gostar de heavy methal!

Mas vamos aos fatos.
Produziu-se e foi à balada. Na verdade o que buscava não era exatamente uma balada, mas um espetáculo de flamenco que se apresentava nA Fábrica. Sim... A Fábrica, original a começar pelo nome pois fabrica todo tipo de espetáculo e acolhe todas as tribos, desde orquestras ciganas que perambulam pelo mundo em apresentações de uma única noite até reunião de executivos. Mas o forte é a clientela: jovens.

O flamenco estava muito bom, o sapato vermelho apertando, e vovó resolveu ficar até o fim. Acomodou-se, olhava em volta porque adora ver gente. De repente, foi surpreendida com uma criatura vestida de palhaço  com um instrumento de metal que quase alcançava o teto. Atrás da criatura, outros músicos, mais malucos ainda. Era a La Tapa de la Tuerta, algo que numa tradução literal quer dizer A tampa da caolha. Foram horas de loucura total ao som de La Tapa... E vovó ali, observando a gurizada.

Depois assomou o fumadouro, e aí a loucura não era só no salão. O fumódromo, reunião de tudo e de todos: os músicos que já haviam se apresentado, os fumadores empedernidos, os bebuns, os casais que saiam do salão para o amasso, o pessoal do baseado... De tudo um pouco.
E vovó sentada... olhando o povo. E já construindo uma resposta para as eventuais perguntas:  Quantos anos a senhora tem? O que faz aqui?  Sou escritora e estou pesquisando para o próximo romance cujo título será... acho que La tampa de la tuerta.

Ah... os bebuns, e não podia faltar um. Vinha trambaleando, se segurando pra não cair. Quando deu com os olhos em abuelita, apertou os olhos bêbados, esticou o polegar e o indicador - como um revólver na brincadeira de mocinho e bandido - em direção à vovo e não precisou perguntar: Que fazes aqui, esquisita criatura? Esta não é a tua praia!... Vovó entendeu. E permaneceu. Havia decidido esperar a amiga que viera junto. E o diabo dos sapatos vermelhos apertando demais. Melhor ficar sentada do que ousar a travessia o salão no meio da turma que pulava sem parar ao som de La tapa de la tuerta.

De repente... uma jovenzinha, movida a marijuana e muito álcool, cabelo só de um lado da cabeça, o outro lado raspado com listas azuis, verde, rosa, vermelhas, brancas. O espanto foi o mesmo do bebum: disse algo ininteligível e quando vovó continuou calada, aceitando o desafio, ela levantou a mão e fez um movimento de deixa pra lá... não entendi, mas tudo bem...

E vovó sentada no fumódromo... Então chegou uma garotinha simpática, com indumentária hippie, vendendo estranhos objetos decorados com bizaras figuras que pareciam duendes, ou índios mapuchos, ou lhamas. Vovó não conseguiu decifrar. Os objetos eram pequenos canos de junco   e muitos se perguntavam do que se tratava. Quando o comentário inevitável surgiu - interessante! gostei de ver! a senhora por aqui e parece que está gostando... -, abuelita aproveitou a deixa e aí é que ficou sabendo que a utilidade do estranho caninho de junco era para aproveitar a guimba do baseado. A 10 pesos cada um. Vovó quase comprou um para ficar o registro da inusitada noite na balada, mas como não fuma aquela coisa que vai no caninho, desistiu. Aliás, há muito desistira de usar, porque a primeira experiência foi atroz: não curtiu porra de barato nenhum... Examinando bem o material, constatou que o fornecedor trocara a erva por cocô de cavalo e orégano.

E para encerrar, um sapatinho, o mais parecido possível com o sapato assassino que acompanhou vovó à balada até às cinco da manhã. Abuela voltou estropiada, renga, arrastando os saltos vermelhos, mas feliz como uma guria de quinze anos.