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quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

As viagens literárias de abuelita y sus muchos zapatos


Já pernoitei em quartos imundos, sórdidos, na companhia de uma velhinha russa, sórdida, crédula. Dostoievski me conduziu até lá.

Perdi-me mil vezes nos labirintos e na erudição de Borges.

Eu, mais Rosa, mais Riobaldo, atravessamos as veredas das Minas Gerais com o diabo e os jagunços na nossa cola.

Me perdi, me confundi, e até hoje não me encontrei, naquela ponte de Budapest a que eu e Alina Reyes fomos levadas por Cortazar.

Subi e desci o rio Madalena vezes sem fim.Voei aos céus envolta num lençol. Minha cabeça cobriu-se de flores amarelas caídas do espaço sideral. Compadeci-me da triste sina de Candida Erendira. Até agora não consegui compor a barafunda que é a árvore genealógica dos Buendia. Garcia Marquez me encanta e me provoca inveja porque não sei escrever como ele.

Passei tardes e tardes no Catedral... pensando na beleza ímpar daquele macho latinoamricano que escreveu as intermináveis Conversas na Catedral. Llosa envelheceu, mas continua lindo.

Desconstruí e construí uma estranha e velha casa cubana sob as ordens de Alejo Carpentier.

Certa vez, uma morte provocou um vazio na minha curiosidade literária: Veríssimo morreu e fiquei sem saber o que fazer. Não haveria mais a ansiosa espera do próximo livro.

Singrei mares longínquos e enfurnei-me em lugares exóticos sob a batuta de Joseph Conrad.

Cerveja. Uisque. Vodca. Gim. Porres homéricos. Camas imundas, prostíbulos nauseabundos e putas disformes. Bebedeiras, bebedeiras, bebedeiras... e mais bebedeiras. Um sorriso filosófico - aquele que a gente sorri para dentro de si mesmo, provocado pela linguagem irreverente, chula, escatológica. Bebedeiras e mais bebedeiras na companhia de Bukowiski.

Ainda imagino onde estará aquela jangada de pedra que Saramago jogou ao mar, sem timoneiro e sem âncora.

Continuo debruçada na janela  do quarto que dava para um beco onde Manuel Bandeira morou. Esperando as moças do sabonete Araxá passarem.

A palo seco, asfixiei-me no calor escaldante da mezeta espanhola e convivi com a vida e a morte severina, descendo o rio Capibaribe, o cão sem plumas de João Cabral de Mello Neto.

Clarice? Nem saberia o que dizer. Ela já disse tudo...

Capitu traiu. Capitu não traiu. Capitu é dissimulada. Capitu tem olhos oblíquos de cigana. Sei lá... Só sei que permaneço no fundo do mar, em meio aos peixes e à vegetação ondulante porque uns olhos de ressaca e a magia do Bruxo do Cosme Velho me afogaram.



A viagem literária cansou a
. E estes saltos altos estão me matando e me corroendo os pés.
Ademán.


 

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